Segunda-feira, 8 de março de 2010, dia internacional da mulher.  Enquanto recolhia pensamentos para rascunhar um texto em homenagem a mulher, lembrei do livro de Ignácio Loyola Brandão, “O homem que odiava a segunda-feira”(*) que relata a história de um sujeito que não conseguia entender uma única frase da língua (Portuguesa, a do Brasil) que apesar de ser a sua língua, porém, não fazia mais sentido. Fiz uma conexão mental com o papel da mulher na sociedade atual: muito se fala, poucos se  entendem. Pensei na questão do gênero, nas disparidades que afligem o ser mulher, o viver ético imaginário e o vale-tudo real.  (*) BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem que odiava a segunda-feira: as aventuras possíveis. SP: Global, 1999.

Ignácio certamente gostará desta segunda-feira, porque é uma segunda especial, é a segunda que coloca a mulher em primeiro lugar. Porque a vontade de sumir com a segunda e com todos os outros dias chatos pode-se resumir, como explicou Zezé Brandão, na vontade de sumir com os nossos recalques, culpas e desilusões, pelo menos por um dia.

A mulher interrompeu o gesto e manteve distância. Nessa cidade, desde que não se chegue perto, a situação fica sob controle.


- DrasGreij KjoiNvi, o homem falou.


- O quê?


- DrasGreij KjoiNvi, o homem repetiu. [..]


- Pelo amor da poderosa Santa Enunciata, padroeira das causas confusas! Não entendi nada!


- TreFstug LinoMiou.


- O senhor não fala a nossa língua, não é? Do que precisa? Dinheiro, comida, orientação?


- HtrfYirtuNha. [...]


- Vejo que não é brincadeira! Nem um desses truques dos programas de televisão aos domingos que colocam a gente em situações constrangedoras.


- Drozmm HilkdaonDyt.


- Engraçado, essas consoantes ditas em maiúsculas. Elas me intrigam. Algum reforço? Tem um significado especial?


O homem começou a andar pela calçada. Seria a segunda-feira, esse dia detestável? Tudo de ruim acontece na segunda-feira, podem consultar a história do mundo. Ao mesmo tempo, sentia prazer. Era um homem dentro dessa imensa cidade, no meio desse caos, que fala uma língua desconhecida, quem sabe do futuro, de outro planeta, outra galáxia. Não era um ser comum, semelhante aos milhares que passavam dando encontrões, rostos ansiosos, olhares esgazeados, murmurando sozinhos. Percebeu que estava falando alto e uma moça loira, de seios enormes entremostrados por decote curto, segurou-o pelo braço:


- DrasGreij KjoiNvi?


- DrAsgreij kjoInvi.


Teve vontade de abraçá-la. Não estava sozinho. Eram dois.(BRANDÃO, 1999: 84-91)
KersgatoiNula! Viva as Mulheres! (ou seja lá o que isto quer dizer.)

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