O jornalista, escritor e videomaker Volmer Silva do Rego (Volmer do Recife) celebra a edição em espanhol de seu livro O olho de Aldebaran (ISBN: 85-7493-090-3 250 p.) e convida a todos para conhecer a nova literatura brasileira.

Depois de chutar a bunda de Macunaíma, aquele sujinho preguiçoso, analfabeto e anacrônico, criado por Mário de Andrade (bem intencionado) na 'revolução cultural' dos idos de 22 - a tal semana de arte moderna que reuniu preconceitos burgueses, europeus e traçou rumos para o futuro da criação cultural e intelectual do Brasil, e que foi ressucitado por FHC que nos chamou de caipiras indolentes, numa de suas troças pomposas, eis que surge da fervura da ditadura militar, da retomada da democracia e da traição do espírito das leis e da ética, como resultado dos golpes dados no inconsciente coletivo, do avanço da propaganda, do redemoinho ideológico incrustrado nas linguagens e enganações do final do século XX, antes do ano 2000, um andarilho do cerne da capital paulista, morador da periferia, outro tipo de herói nacional, branco (talvez com um tataravô negro ou mestiço, mouro ou semita), nordestino, nervoso, apaixonado, solidário, leitor de livros e revistas, cinéfilo, músico, plástico, formado, reformado, conformado, com mais de 350 anos de Brasil, bonito, atlético, amorenado pelo sol, cheirador de flores e sorridente, amante da natureza, sexualmente ativo e heterossexual (sem ser homofóbico - um braço - abraço de distância está bem! As relações são espirituais mesmo!), entre outros atributos e qualidades, das quais algumas pouco apreciadas pelo tipo médio do cidadão televivo (mediocridade é zona de equilíbrio formal!) o pequeno burguês de passarela, cartão de crédito e shopping que se forma pela televisão.
 Contudo, muito mais avançado do que a maior parte das pessoas, bem acima de média, capaz de sacrifícios pela causa da humanidade, contra as inflexões dos sistermas desumanos e do cacete da academia (ainda que dependente dela - vivemos a apoteose dos papéis, e há que ser doutor, mestre, enfim, se cuidar!) e do mercado e seus experts e mbas, caminha sem vaidade, mas cioso de si, ouvindo o canto do Sabiá laranjeira, olhando as estrelas e formas lunáticas pelas noites quando não há poluição excessiva(?) esquivando-se da feiura e do policialesco. 
 Agstern da Silva Brown é só um homem comum, que faz poesia, ama as mulheres, ouve boa música, gosta de crianças, discute filosofia, flerta com a as artes todas, trabalha feito cão, ganha pouco e aceita o desafio de tentar resgatar o resto da humanidade submetido às diatribes do destino e dos próprios humanos. Aceita a Ciência, mas sabe de Religião e de todas estas coisas de homens na falta de explicações melhores. Vive procurando se convencer de que há algo para muito além desta mesmice e encara de frente, e desconfiado, os dirigentes do planeta na caverna sombria onde vivem alguns poucos milhares dos sobreviventes de todas as Volúpias. Mas, ele é uma ficção. Não existe de verdade. Nunca o verás por aí!
 No ano de 2066, aos 999 metros abaixo da superfície do planeta já semidestruído pelas ações humanas e calcinado pelo Sol, ele vive seu drama pessoal, um 'affair' pelo amor de duas mulheres bonitas e inteligentes, intrigados com a sociedade, seus chefes e superiores hieráquicos, a crítica da razão e da arquitetura do conhecimento que erige naquela cidade um jeito sui generis  de estabelecer as relações de poder e entre as pessoas, o que não lhe parece confiável - ali há mesmo muitos mistérios, mais do que nossa filosofia imagina em sua vanidade.
 Cheio de dúvidas e questionamentos Agstern é um ser global, mas nasceu no Brasil. Faz um esforço terrível para suportar as idiotices das classes dirigentes de seu país, das elites retrógadas que lançam moda e valorizam o superficial, o acessório em detrimento do essencial.
 Um dia, depois de captarem em seus sistemas de rastreamento em centros de pesquisas espaciais os sinais de ondas de rádio ou pulsos eletromagnéticos oriundos das profundezas do espaço, os dirigentes decidem que é hora de fazer contato e enviam um pedido de socorro a um determinado planeta numa zona qualquer do quadrante Y do espaço, próximo de uma estrela da nossa Via Láctea. Prepararam uma nave útero com capacidade de se auto gerir e de se sustentar por várias décadas. Realizam um simulacro de julgamento (Agstern provoca um cisma na cidade) e o condenam juntamente com as duas mulheres pela qual ele se apaixonara, a serem os tripulantes e responsáveis pela viagem e pela tripulação (que, curiosamente, consiste em nove fetos geneticamente melhorados que se desenvolverão gestionados pelo útero artifical da nave - os 3 serão responsáveis pela tradu(i)ção de humanidade e de sua educação formal quando nascerem), e os mandam para o espaço atrás do provável ser inteligente que havia enviado os sinais. Tudo era um plano. Qual? E, a partir daí, toda a história se inicia. Quer saber o que acontece então? Prepare-se. Será uma viagem inesquecível.

Fonte: Observatório da Imprensa


Quarta-feira, 29 de setembro de 2010
ISSN 1519-7670 - Ano 15 - nº 609 - 28/9/1971
Jornal de Debates

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Vírus, vermes e comunicação
Por Muniz Sodré em 28/9/2010
Em sua coluna semanal (O Globo, 22/9), o poeta e ensaísta Francisco Bosco vale-se da hipótese da "compulsão à emissão", formulada pelo crítico alemão Christoph Türcke, para falar do horror ao vazio que assaltaria a sociedade contemporânea, levando-a a manter-se ocupada o tempo todo em torno de e-mails, Facebook, Orkut, Twitter etc. Aliás, daí surge aos poucos uma curiosa linguagem: o verbo "tuitar", por exemplo. Até mesmo Barack Obama, dizem, tuíta.
O comentário da coluna coincidiu com a notícia, no mesmo dia, do ataque de hackers ao Twitter. Segundo a imprensa, durante horas uma enxurrada de mensagens se espalhou pelo Twitter com piadas, pornografia e vermes. Até então se falava de vírus, mas estes, ao que consta, são programas com um número adequado de instruções transgressivas. O verme é uma inovação em matéria de software transgressor, uma vez que realiza com poucos signos a sua tarefa de violação do campo comunicativo alheio. E mais: o verme desencadearia por "conta própria" efeitos suplementares, atinentes à lógica interna da máquina e de sua linguagem.
Estes dois tópicos, se bem examinados, podem lançar alguma luz sobre as relações entre a atualidade política e o espaço público brasileiro, no quadro das discussões sobre mídia e opinião pública. A primeira coisa a se sublinhar é que o desenvolvimento das democráticas ferramentas de comunicação – dentro da dinâmica de convergência entre as telecomunicações, a informática e o audiovisual – em nada democratizou a natureza oligopolística do império transnacional das tecnologias de informação e comunicação. Cerca de uma dezena de gigantes da multimídia controlam em torno de 90% dos mercados midiáticos mundiais, em termos de equipamentos, redes e conteúdos.


A hipótese de mediações culturais 


Isso não é nenhuma novidade. Em torno dessa realidade oligopolística, giraram ao longo do último terço do século passado as críticas dirigidas pelos "pós-modernistas" à mídia ou ao que se vem chamando de "sociedade do espetáculo". Este prisma analítico, popularizado no meio acadêmico pelo teórico francês Guy Debord, é matéria corrente em teses, conferências e livros.
Movido pelas concepções frankfurtianas no sentido de uma sociedade regida pela "administração total", Debord fez do espetáculo o conceito unificador de uma enorme variedade de fenômenos, sob a égide do turbo-capitalismo ou da sociedade de mercado global. De um lado, havia o momento histórico em que o consumo parecia atingir a ocupação total da vida social; de outro, a evidência da exploração psíquica do indivíduo pelo capital. O espetáculo impunha-se, assim como uma verdadeira relação social, em meio à qual emergia a imagem como uma espécie de forma final da mercadoria, reorientando as percepções e as sensações.
Entretanto, com o desenvolvimento da comunicação eletrônica e o advento das chamadas "redes sociais" na internet, torna-se necessário revisar alguns aspectos dessa teoria do espetáculo porque esta supõe um espaço público unificado e "culturalizado" pela mídia. Não que tenha desaparecido o fascínio do espetáculo, que deu lugar, num determinado instante, a uma hierarquia classificatória da cultura (elitista, intermediária, popular) e à hipótese de mediações culturais.


Resultado das eleições 


Mas o que agora ocupa o primeiro plano do fascínio é propriamente a "distração" ou o "divertimento" comunicativo, que consiste em inserir-se numa espécie de realidade integral da comunicação por meio de uma escrita e uma leitura ("lecto-escritura", talvez) fragmentárias, mas intermináveis, através dessas novíssimas "ferramentas" (twitter etc.) na rede eletrônica. Como numa adicção qualquer, o gozo está em manter-se "ligado", tecnicamente vinculado a um outro, que não é verdadeiramente uma alteridade, e sim, uma inscrição digital no espaço virtual. O divertimento é literalmente "celular".
Questões emergentes: pode-se falar de espaço público nessa realidade feita de digitalismo e espectro de frequências de telecomunicações? Ou então, existe mesmo opinião pública nesse espaço virtual em que a informação política e o interesse pela atualidade foram substituídos pelos tweets da banalidade? A informação e a comunicação não estariam dando lugar ao puro e simples preenchimento do vazio existencial pelo frenesi da presença de cada um na rede?
Não são indagações meramente acadêmicas. Se de fato a realidade da informação e da comunicação desceu de seu patamar público para essa esfera privada onde o grande acontecimento é a proliferação de "vírus" e "vermes", é possível que o discurso da mídia tradicional (jornais, TVs, rádios, revistas etc.), um discurso ainda tecnicamente público, deslize apenas sobre si mesmo, sem incidência forte sobre a vida comum.
Uma consequência prática disso tudo seria a inutilidade das ofensivas políticas por parte da mídia num período eleitoral como o de agora. Num vazio de cidadania política, não há de fato opinião pública, porque o "som" (do discurso, da fala) não se reproduz no vácuo. O resultado das urnas vindouras periga ser muito educativo para o jornalismo em voga.

Ana Paula Goulart Ribeiro convida para o lançamento do livro História da Televisão no Brasil. O evento será no dia 20 de outubro, no Rio de Janeiro, na Livraria Saraiva do Rio Sul, a partir das sete da noite. Participam do livro 15 pesquisadores das áreas da antropologia, comunicação, história e sociologia, todos especialistas no assunto. São eles: Alexandre Bergamo, Alexandre Figueirôa, Ana Silvia Médola, Beatriz Becker, Denis Gerson Simões, Cristina Brandão, Kleber Mendonça, Léo Vitor Redondo, Marcos Napolitano, Maria Celeste Mira, Marialva Barbosa, Marina Caminha, Regina Mota, Valério Brittos e Yvana Fechine.
Em 18 de setembro de 1950 o Brasil viu, pela primeira vez, a televisão em funcionamento. A transmissão sofreu problemas, os aparelhos eram escassos e a programação uma incógnita. Ainda assim, inaugurou-se uma nova relação do brasileiro com o mundo da imagem. Hoje, não importa onde seja o lar, uma modesta casa de quarto e sala ou um sofisticado apartamento: lá reinará um aparelho de televisão. Com tela de alta definição, acesso aos canais pagos ou simplesmente um antigo modelo movido a óleo, a televisão é onipresente na nossa sociedade. Mas nem sempre foi assim. E este livro conta em detalhes a trajetória desse meio de comunicação, analisando sua importância na estruturação da política, da economia e da cultura brasileiras, além do seu impacto no público. Década a década, os autores narram as transformações do meio - e da sociedade. Dos programas de auditório aos humorísticos, das novelas às minisséries, dos jornais aos programas interativos, o livro é um passeio indispensável para estudantes, professores na área de comunicação e todos aqueles que querem conhecer a televisão brasileira.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
PRIMEIRO CAPÍTULO

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