Trad. Regina Cunha, Em 13/06/2011 Gigaom
|
Mathew Ingram |
Temos passado tanto tempo consumindo as notícias nos formatos previsíveis - relatos, reportagens divididas em partes, feitas especialmente para concorrer a prêmios, documentários especiais para a TV, e por aí vai - que os novos formatos de jornalismo que estamos vendo podem parecer confuso. Talvez não nos surpreenda, mas ainda não há um consenso se estas novas formas estão substituindo as antigas, ou se elas são novos jeitos de se fazer jornalismo.
Frederic Filloux escreveu sobre o assunto no Monday Note, onde ele critica a postura de Jeff Jarvis sobre o chamado jornalismo em tempo real. Mas, sem dúvida todas estas novas formas têm potencial para ampliar, e muito, o campo jornalístico e os meios de comunicação, e isso é uma coisa boa.
|
Frederic Filloux |
O artigo de Filloux entitulado "Jazz não é um subproduto da música rap" é uma resposta ao que Jarvis escreveu há algumas semanas, no qual ele que é professor da Faculdade de Jornalismo da Universidade da Cidade de Nova Iorque argumentava que o artigo (a notícia) - a unidade central da narrativa com a qual estavamos acostumados a ver nos jornais e em outras formas de mídia - deixará de ser o padrão para os eventos noticiosos. Em muitos casos, afirmou Jarvis, o artigo ou a estória será visto como um "plus de luxo ou um subproduto" do processo de coleta de notícias, ao invés de ser o objetivo central em cada situação.
No lugar da notícia tradicional, Jarvis acredita que deveríamos olhar para um tipo de "reportagem em tempo real" e ficar de olho no que os outros jornalistas estão escrevendo no Twitter e em outras formas de mídia social, incluindo o Tumblr - como o repórter do New York Times, Brian Stelter, fez depois do tornado em Joplin, Missouri, e como Andy Carvin da NPR fez durante a Arab Spring. Para Jarvis: Os artigos (reportagens) são maravilhosos. Mas eles já não são necessários para cada acontecimento. Eles foram importantes nos jornais e nos telejornais mas não agora, nesta era sem-começo e sem-fim da transmissão digital, do fluxo contínuo e livre da notícia. Às vezes, basta uma atualização rápida; em outras, um sequencia de vídeos pode ser a solução.
Filloux também contesta a posição de Jarvis e argumenta que o formato de reportagem ainda é necessário - na verdade, ele afirma que um artigo bem detalhado depois de um acontecimento como as rebeliões no Egito, por exemplo, são ainda mais importantes, do que antes, porque agora é preciso que se compreenda e que se corrija os excessos e os erros resultantes de uma enxurrada constante de informações, proporcionada pela cobertura instantânea, via twitter e outras mídias sociais. Eu, Ingram, também argumentei de forma semelhante em minha resposta à tese original de Jarvis - meu ponto de vista é que nós precisamos ter uma observação mais apurada do contexto, e análise, não menos, por causa da maré crescente de informações a que estamos sujeitos de todos os lados (isso sem mencionar a dificuldade de verificar as fontes de informação, como por exemplo, o recente caso do blogueiro de Damasco, que no final não era verdade). Jarvis me respondeu dizendo que nem eu, Ingram, nem Filloux entendemos direito a opinião dele. Acho que eu, Jarvis e Filloux estamos os três dizendo a mesma coisa, embora à primeira vista, possa parecer o contrário. O ponto de vista de Jarvis, na minha interpretação, é que há muitas estórias sendo escritas que adicionam pouco valor - recheadas de longas partes que não dizem nada, e que estão ali só para encher espaço, sem contribuir para a análise do fato.
Além disso, às vezes uma simples informação que estava escrita em algum lugar, acaba sendo duplicada, em alguns casos, dezenas ou até centenas de vezes. Isto é verdade.Penso que Jarvis sugere que, em muitos casos, estas notícias são um desperdício de tempo tanto para o repórter, quanto para o leitor; com a indústria das comunicações e do jornalismo vivendo nesse clima de turbulência, nós não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar recursos preciosos com essas coisas. Melhor conectar com outras fontes que já tenham reportado o fato ("faça aquilo que você faz melhor, e conecte-se com o resto", Jarvis gosta de dizer) e em seguida agrege valor através da sua análise, ou mude para outra coisa. Existem muitas novas maneiras de atingir os objetivos jornalísticos para cobrir as notícias, coletar e compartilhar informações: Twitter, blogs, dados, visualização, multimídia .... então, o artigo pode concentrar em agregar valor verdadeiro: no contexto, na explicação, educação, comentário, oferecendo mais informação [e] checagem do fato.
Jarvis está certo que existem muitas outras ferramentas disponíveis para nós agora, do que tínhamos no passado, e muitas delas - incluindo o Twitter e outras mídias sociais - nos possibilitam informar em tempo real de uma maneira que como nunca aconteceu antes. E, além de só fazer a reportagem, serviços como Storify e Storyful podem ser usados por jornalistas (como Andy Carvin que tem usado para escrever uma série de artigos) para reunir os relatos sobre um tópico, e adicionar uma análise sobre o assunto quase em tempo real. Depois disso, aquela notícia tradicional talvez precise ser escrita - em parte para atender aqueles que não estejam online ou no twitter o tempo todo - ou não.
Então esse é o jornalismo do futuro? Eu acho que é um passo muito bom, em primeiro lugar. Nenhuma dessas ferramentas ou abordagens vai substituir um, ou o outro, mais do que a internet substituiu a TV - em princípio, eles se alimentam e se informam mutuamente, e os jornalistas inteligentes (profissionais ou amadores) devem usá-las para tornar o nosso conhecimento sobre um determinado fato mais completo e ainda mais compreensível. Essa seria a situação ganha-ganha para todo mundo, tanto para o jornalismo como para a sociedade como um todo. (Mathew Ingram é um premiadissimo jornalista que há 15 anos escreve sobre tecnologia, negócios e novas mídias, como repórter, colunista e blogueiro.)