Este é um blog colaborativo. O texto a seguir foi enviado hoje (23/4) e é uma colaboração de Adriana Costa, que atualmente participa da pós-graduação em Estudos da Mídia pela UFRN. Adriana em sua própria definição se afirma: Mulher e educadora em Natal, RN.
Estava aqui sentada pensando com os botões da minha minissaia: aonde vai parar a educação no Brasil?
No momento, parece que vai parar no Ministério Público, na Defesa do Consumidor, no Washington Post, no The Guardian e principalmente nos programas da TV.
Sim, as notícias veiculadas, nos últimos dias, nos principais programas e telejornais no Brasil e até no exterior mencionam o caso da aluna Geyse e seu microvestido, mas só dizem respeito a uma coisa: a deficiência da educação no Brasil.
Muitos têm discutido se a moça deveria estar ou não com um microvestido na faculdade, outros sobre se ela quer apenas ser mais uma “capável” de revista masculina, outros se de fato ela provocou os colegas ou não por estar com o tal vestido, já ouvi até comentarem que ela errou na cor e este seria o problema.
Mas o fato que me apavora cada vez que ouço falar no caso é que nada ou pouco foi discutido sobre a microeducação, a microética, a microtolerância e o microrespeito pelos direitos da mulher.
Sinceramente, esses fatos recentes me fizeram pensar e repensar o trabalho de Patrícia Galvão, a Pagú, nos anos 20, quebrando os paradigmas sociais vigentes e usando cabelo curto e calças compridas nas ruas de São Paulo, depois fui até 1967 quando Mary Quant lançou a minissaia inovando o guarda-roupa feminino, e dentre tantas mulheres importantes lembrei por fim de Leila Diniz em 1971 com seu barrigão à mostra na praia.O que esses fatos tem em comum com o caso Geyse? Todos referem-se a intolerância da sociedade quando o assunto é emancipação feminina.
Sou do tempo que moça de família não podia pintar a unha de vermelho,nem falar palavrão e quando alguma moça era estuprada ao dar seu depoimento na delegacia debaixo de olhares de reprovação tinha que dizer com que roupa estava vestida, e se fosse por exemplo um microvestido rosa-choque era uma prova de que ela provocara o estuprador.
Entretanto isso ficou no passado – pensava eu. Não isso está muito presente, em pleno século XXI a mulher ainda é julgada pela roupa que usa, e isso para mim é retrocesso.Se a moça foi à faculdade disposta à mostrar seus dotes estéticos ou se era apenas um indício de uma “esticadinha” a alguma festa depois da aula; penso que não seria de forma alguma necessário tanta confusão e revolta – por parte dos moralistas de plantão que urravam e gritavam palavras relativas a uma suposta profissão da moça. E esse é outro fato que não entendi, se de fato a moça tivesse algum tipo de profissão relacionada ao uso do corpo não seria problema dela? Embora pelo que foi mostrado não é o caso.
Mas realmente o problema se agrava quando tais sinais de intolerância acontecem no local em que não deve: o espaço de uma universidade, não seria esse nome uma prova de que lá estamos a disposição de vários comportamentos?
Está certo que tal universidade tinha uma regimento, extremamente vago com respeito ao assunto vestimenta, e que talvez para algumas moças e até para alguns rapazes Geyse exagerou no micro. Contudo, onde estava a coordenação do curso de Turismo que ao perceber o “desrespeito” da moça através do tal vestido não a chamou amigavelmente e informou os preceitos da universidade e aproveitou a oportunidade para “educar” a moça “transgressora”?
Onde estavam os professores das turmas que ao invés de estarem em sala de aula estavam urrando e filmando o microvestido escandaloso? Onde estava o conselho de ética e moral que permitiu todo aquele vandalismo que culminou com a presença da polícia para resgatar a “criminosa” do micro?
Sou educadora também e para mim é recorrente ver moças – em especial na sexta-feira à noite – que vão a faculdade de microssaias ou microvestidos ou decotes até mais escandalosos que o de Geyse, e sinceramente, jamais pensei mal de tais moças primeiro porque em nada atrapalha o andamento da aula, depois porque se tais moças entendem que precisam mostrar o corpo na sexta à noite ou qualquer outro dia é direito e problema delas a mim cabe ensinar minha disciplina e a elas aprender; e considerando que não estamos na época das cavernas nenhum rapaz jamais tentou avançar em uma delas e arrastá-las pelos cabelos até a gruta.
E ainda quanto as que tem a profissão citada pelos alunos da Uniban também não creio que seja problema de ninguém cada um ganha a vida como quer e como pode desde que de forma lícita ,temos liberdade para isso, não é assim que demanda a Constituição Federal?
Diante desses fatos tenho que começar a me preocupar, pois se essas práticas começarem a se tornar comuns e não ficarmos atentas as pequenas mostras de preconceito disfarçadas de moralidade e ética, em tempo breve voltaremos para a condição servil com total obediência ao “senhor meu marido” que determinará o que vestir; onde ir; com quem falar e até se mulher precisa ou não estudar, já passamos por isso antes.
Fica meu pesar pelo fato de estarem discutindo o micro errado. Está na hora de discutir o microdesempenho da Uniban na avaliação do MEC e a microlição que aprendemos com tudo isso.
Moças universitárias: quando forem a faculdade cuidado com o microvestido, pois a falta de pano pode render pano prá manga.