Projeto de pesquisa entre Brasil e Europa criou uma maneira de pequenas comunidades aproveitarem recursos de televisão digital, como a criação de conteúdo próprio e maior interação do telespectador. Trata-se da transmissão de sinal de televisão digital e a interatividade pela rede elétrica, o chamado sistema PLC, da sigla em inglês Power Line Communications. Denominado System for Advanced interactive digital television and Mobile services in BrAzil (SAMBA), o projeto teve participação de empresas e instituições de países europeus e do Brasil, entre eles a Escola Politécnica (Poli) da USP, com financiamento da União Europeia.
TV Digital por PLC instalada em Barreirinhas permite interação com o usuário
O grupo testou durante três meses o sistema no município de Barreirinhas, no estado do Maranhão. Segundo o professor André Riyuiti Hirakawa, coordenador do projeto por parte da Poli, a cidade foi escolhida intencionalmente, pois é o município mais pobre do País. “A cidade tem eletricidade, mas não tem provedor de banda larga e TV a cabo. Nós pensamos em como usando a televisão poderíamos ajudar a comunidade”, diz Hirakawa.
O projeto SAMBA montou em 2009 uma estação de televisão no local, com transmissão da TV Mirante, emissora afiliada da Rede Globo no Maranhão. Mas não é uma transmissão comum. A população pode participar diretamente na criação de conteúdo, como destaca Hirakawa: “A princípio, a comunicação pela televisão é unidirecional. Já a transmissão em Barreirinhas possui material da TV Mirante e material próprio do local e de forma interativa.”
O professor explica que há um gerenciador de conteúdo que fornece as ferramentas para a criação e gerenciamento deste e, depois, ele é distribuído para toda a cidade. Para concretizar esse plano, o SAMBA integrou a população de Barreirinhas para participar do projeto. Escolheram alguns “personagens” da comunidade para testar as ferramentas fornecidas. No final, instalaram o equipamento necessário nas casas dos personagens escolhidos para que eles criassem textos, imagens, vídeos e áudios, os quais ficaram disponibilizados nas televisões do resto da comunidade.
“A instalação foi pensada em pessoas que poderiam contribuir na introdução de conteúdo, como donos de estabelecimentos comerciais, um professor, uma dona de casa e um aluno. Um professor, por exemplo, pode fornecer material didático para a população”, diz Hirakawa.
Sistema e equipamentos
A Poli participou do projeto com um grupo do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais, coordenado por Hirakawa. Seu grupo ajudou a criar a parte de processamento e o sistema PLC. O sinal de TV original da TV Mirante é recebido pela estação local, misturado com o conteúdo gerado localmente e retransmitido para toda a cidade de Barreirinhas por um equipamento chamado transmissor.
O professor da Poli detalha que a TV digital em Barreirinhas funciona como um computador e internet para os usuários, devido à interatividade que ele permite. A navegação pelo material que chega na televisão e a criação de novos conteúdos podem ser comandados por um controle remoto juntamente com um teclado virtual na TV.
Foto da esquerda mostra antena instalada na cidade para transmissão do sinal digital. Na foto da direita, equipe de instalação prepara um dos transmissores
Aqueles que criam textos, imagens ou vídeos no município fazem isso diretamente pelo televisor, com um conversor ou set-top box, que possui um receptor. A informação do set-top box vai para uma central, o sistema de gerenciamento de conteúdos, que retransmite os dados para as outras televisões.
A escolha do sistema PLC facilitou a instalação da TV digital, pois aproveitou os cabos de energia já existentes. Hirakawa acrescenta o custo do sistema entre as vantagens: “Por enquanto, o PLC é mais barato para o usuário porque o cabeamento já existe”. O professor estima que, sem contar a mão de obra, a instalação do sistema PLC deve custar algo em torno de R$20.000,00, enquanto uma instalação de banda larga equivalente deve custar por volta R$ 50.000,00, contando somente a infraestrutura de comunicação.
Entre as desvantagens, há ruídos na comunicação causados por outros objetos que usam a eletricidade, podendo interromper o sistema. Para saná-lo, o projeto usou filtros nas tomadas desses objetos.
Por ser um projeto de pesquisa, os equipamentos e o sistema não puderam ficar em Barreirinhas. O Projeto SAMBA também fez testes na cidade de Natz, no norte da Itália.
Imagens fornecidas pelo professor André Hirakawa.