Do site Carta Maior apresentamos este artigo sobre o uso político do Twitter. São interessantes revelações sobre a reprodução, por meio de robôs, de informações falsas para confundir o público. Vários atos de protestos políticos que surgem na rede são virais e servem para reproduzir, capitalizar e deformar fatos políticos . Ou seja: colocar a política no hospício.
Será que era difícil ao senador Mercadante, como líder do PT, em vez de se curvar à mídia, dizer que concordaria com uma CPI contra toda a mesa do Senado e contra todos os senadores e ex-senadores que são acusados pelo Ministério Publico Federal em processos que “dormem” no STF? Ao contrário da esquerda, que ainda usa métodos do século XIX na organização de suas manifestações de rua, a direita o fará com o uso da mais alta tecnologia. O artigo é do jornalista Rogério Mattos Costa.
Rogério Mattos Costa (*)
“A amigos petistas, Mercadante reclama que são milhares de mensagens pelo twitter com críticas ao apoio a Sarney”O “twitter” é um tipo de mini-blog aparentemente inofensivo e simples.
Para alguns, pode parecer até um supérfluo objeto de desejo e exibicionismo, pois com ele, uma pessoa, aonde estiver, pelo celular, pode mandar a vários amigos uma mensagem de até 140 caracteres dizendo qualquer coisa, como se estivesse compartindo um “diário”em tempo real.
O que poucos ainda se deram conta é que essa invençãozinha, aparentemente inofensiva, pode ter um uso muito importante: emitir simultaneamente, diferentes mensagens que possam causar pânico e mobilizar pela comoção ou medo, milhares de pessoas.
Isso porque programas muito simples podem simular a emissão, com origem em um único computador, de milhares de mensagens de “twitter” e de celular, que pareceriam ser originadas de milhares de pessoas para outros milhares de pessoas.
A prova dessa possibilidade está todos os dias em nossos próprios computadores: são programas similares que originam campanhas de spam originadas da Nigéria e que recebemos todos os dias dizendo que “você ganhou um prêmio na loteria de Malta”, “sou o gerente de um banco no Yemen”. E as célebres “correntes” com remessa de “nossas fotos”, “alguém mandou uma mensagem de amor para Você”, etc.
O twitter, combinado com mensagens de celular emitidas de uma única central em nome de milhares de pessoas, foi usado pela primeira vez nas manifestações e campanhas eleitorais nas ex-republicas soviéticas da Ucrânia, Geórgia e Moldávia. E também no Nepal, no Tibet e no Irã, onde as manifestações cessaram como por encanto, de uma hora para a outra, assim que o governo desativou esse serviço e identificou, prendeu, processou e está julgando cinco funcionários da embaixada britânica que operavam o sistema, demonstrando através de gravações telefônicas os vínculos desses funcionários e de “turistas” franceses e ingleses com líderes da oposição.
A técnica é na verdade muito simples.
Uma relação dos nomes mais comuns de um país é colocada como “remetentes”. Na Ucrânia, são colocados como remetentes os nomes próprios comuns como Tadeu, Ivan, Stan, Volódia, etc. E vários números reais, serão os destinatários, pois todo mundo nesses países tem um filho,parente ou amigo com esses nomes...e em caso de perigo ou situação de risco, a tendência natural será pensar que se trata“desse Ivan” que é seu filho ou que conhece. Depois é só escrever um conjunto de mensagens similares, com mesmo objetivo. Em minutos, o programa emitirá milhares de mensagens do tipo: “filha, venha urgente praça Ivan Mihailovitch” ou “filho, espero você às 10 em frente ao café Berlin”.Ou ainda: “companheiro: Ivan foi ferido pela polícia. Urgente manifestação em frente ao congresso”. Ao chegar ao local, “manifestantes de verdade” estarão gritando palavras de ordem e atacando a polícia, quebrando vidraças.
Depois, o trabalho de desordeiros contratados, comuns em países em crise, fará o restante do serviço. O conjunto de centenas ou até milhares de pessoas reunidas pelo celular ou twitter irá servir de “figurante” para as fotos de imprensa, para convencer aos manifestantes “reais” de que seu movimento é realmente apoiado por muita gente do povo ou para ser agredido, incorporando-se à confusão.
Quem já recebeu uma mensagem de falso seqüestro, feita por celular, sabe exatamente de que tipo de emoção estou falando.
Isso é uma realidade: embora tenham fracassado no Brasil, as manifestações de rua de direita, como as do movimento “Cansei”, não serão mais privilégio da esquerda...Com a queda das ditaduras e o crescimento do processo de aumento da consciência dos povos, com a realização regular de eleições democráticas, a direita apelará cada vez mais para essa antiga tática antes “exclusiva” da esquerda, que tem a tendência natural de vencer as eleições sob um clima de normalidade institucional.
Mas, ao contrário da esquerda, que ainda usa métodos do século XIX na organização de suas manifestações de rua, a direita o fará com o uso da mais alta tecnologia, fornecida e operada por agentes dos organismos de inteligência do chamado “império”, como o NED, National Endowment For Democracy, ( pesquisar por esse nome no Google!) uma estranha ONG. mantida com recursos do Tesouro dos EUA, criada por Ronald Reagan para substituir a CIA em ações abertas de sabotagem, manifestações políticas, desestabilização de governos “inimigos” e que faz propaganda aberta do uso do twitter como “forma de comunicação dos defensores da liberdade em países sob governos tirânicos”.
Isso tudo com o auxilio de grandes empresas privadas que produzem sistemas de informação com finalidades aparentemente modernas, “singelas” e até muito úteis, mas que devidamente manipuladas e operadas, podem se transformar em poderosas armas para derrubar, nas ruas, governos desagradáveis ou incômodos.Ou para eleger governos simpáticos, como demonstrou a formidável maquina de TI montada durante a campanha de Obama para recolher fundos e mobilizar voluntários para o trabalho de casa em casa. Desnecessário dizer que, se necessário, as operadoras de serviços locais de telecomunicação poderão ser contatadas pelos fornecedores de equipamento para remover ou reduzir eventuais sistemas de “firewall”.
Mercadante foi o primeiro senador a aderir ao twitter, já há mais de um ano. Com todo o respeito que possamos ter pelo histórico senador do PT, ele leva jeito de ser um daquelas pessoas de boa fé, que “entusiasmadas” com os modernismos “da hora”, parecem ser facilmente impressionáveis com os “avanços tecnológicos”. Ou daquelas que procuram demonstrar que estão “mais à frente” do que os outros “pois já estão usando tal ou qual nova tecnologia”. Mas que o fazem sem nenhum espírito crítico e sem ao menos desconfiar do que realmente seja aquilo que estão usando. São aquelas para as quais “o meio” é mais importante do que “a mensagem”...Como já nos explicou, nos anos 60, Marshall Mac Luhan, ele mesmo depois, uma vítima, da própria mídia que denunciava.
Existem milhões de pessoas assim, geralmente entre os mais jovens, preocupados em parecer mais modernos, atualizados... E que estão sempre preocupados em trocar de celular, usar ostensivamente o mais recente modelo de Ipod para diferenciar-se da multidão, atentos e preocupadíssimos com sua página no Facebook, no Orkut, no Messenger, no ICQ e em tantos outros sites e sistemas que já viraram passado...
Como o Luis Carlos Azenha comentou nesses dias, com esse tipo de pessoas a direita já sabe bem como lidar: basta “tuitar”para derrubar.
Ou para impressionar, mobilizar, intimidar.
Em vez de impressionar-se com o numero de mensagens de twitter que recebeu, o senador Mercadante e outros parlamentares do PT deveriam aproveitar a ocasião em que é necessário ao PT defender Sarney pela primeira vez, enquanto todos os demais partidos o defenderam todos esses anos, para usar a internet e outros recursos da tecnologia para explicar aos seus eleitores o que está acontecendo e não para complicar, pedir demissão, dar uma de “mocinhos”, fazendo o jogo da direita.
Mercadante, como verdadeiro líder, deveria tomar a iniciativa, ser um dos atores do processo e não fazer o triste papel de vítima das circunstâncias, de simples platéia muda, alvo de mensagens de twitter, mas sim origem de esclarecimentos que o presidente da Republica, até pela natureza do seu cargo, não pode fazer.
Será que era difícil explicar que o congresso brasileiro é formado por representantes de grandes oligarquias, das quais o “clã” do Sarney, atual presidente do Senado, é apenas uma das mais fortes e que foi eleito pelo DEM e PSDB contra o candidato do PT que era Tião Maia?
Será que era difícil ao Mercadante explicar que existem dezenas de outros clãs, como os Maia, no Rio Grande do Norte, os Magalhães na Bahia, os Vasconcellos em Pernambuco, os Lucena na Paraíba, os Jereissati no Ceará, os Serra-Alkmin-Kassab em São Paulo, que são tão nocivos quanto o clã Sarney???
Será que era difícil ao Mercadante e seus colegas explicarem ao povo e a seus eleitores, inclusive usando a internet e o twiter, que esses clãs querem derrubar o Sarney da presidência do Senado, apenas para colocar em seu lugar o clã do Marconi Perillo, que tem seis processos de corrupção parados no STF, que aliás podem ser acessados por qualquer um no endereço www.stf.gov.br ?
Será que era difícil ao Mercadante como líder do PT, em vez de se curvar à mídia, explicar que Marconi Perillo é do mesmo partido de Serra, cujo interesse é causar a maior confusão possível ao país para favorecê-lo nas pesquisas e interromper as ações do governo Lula? E ainda para, se possível, usar a presidência do Senado para tentar um “impeachment”de Lula e do enfermo José Alencar e dar a presidência da República para alguém não eleito para isso como Gilmar Mendes ou Michel Temer?
Será que era difícil ao Mercadante como líder do PT, em vez de se curvar à mídia, dizer que concordaria com uma CPI contra toda a mesa do Senado e contra todos os senadores e ex-senadores que são acusados pelo Ministério Publico Federal em processos que “dormem” no STF?
O Mercadante histórico sabe que pode perder o espaço para o fulgurante Protogenes, queridinho da mídia em São Paulo, mas recorrendo ao caminho que lhe está traçando a própria mídia, só aproxima-se mais da derrota.
O caminho de Mercadante é explicar aquilo que a mídia não pode explicar.
E não complicar, fora de hora, o caminho da manutenção das instituições democráticas, regime no qual os avanços sociais são comprovadamente mais permanentes e efetivos.
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