Os crimes do Padre Heusz

Posted by admin 11 de jun. de 2013 0 comments

Recado do querido professor Emanoel Barreto (DECOM/UFRN) aos leitores do Cultmídia:

"Acabo de entregar a Abimael, do Sebo Vermelho, os originais do livro “Os crimes do Padre Heusz”, onde narro a história de um sacerdote que, após sonho epifânico, sente-se na obrigação de cumprir rigorosamente o ditame bíblico, que diz: “O salário do pecado é a morte.” A partir daí começa sua saga. Imbuído de sacros intentos encarrega um velho químico, seu amigo, a preparar finíssimo veneno. Detalhe: a poção é embebida a hóstias que a seguir são levadas à boca dos ímpios.  Configura-se à letra exata o pagamento do óbolo aos decaídos. Sim, pois Padre Heusz crê firmemente que não os assassina, mas os salva para a vida eterna. O veneno, porém, não é algo grosseiro e cruel. Antes de matar, leva o pecante a sentir-se em concílio com o divino, experimentando por breves instantes o gozo místico. Esse o intento de Padre Heusz: pacificar aquelas almas, para que não sigam ao Além em danação desesperada. Sequer sabem que estão morrendo.

O livro tem prefácio de François Silvestre. É dedicado aos repórteres policiais Pepe dos Santos, Genésio Pitanga e Ubiratan Camilo (in memoriam). São 224 páginas, editado pelas mãos loucas de Abimael, do Sebo Vemelho. Lançamento em julho próximo, no Solar Bela Vista.

Acrescentei à trama a presença de um jornalista, editor de um grande jornal. É a ele que Padre Heusz Envia cartas, narrando tudo o quanto fizera em nome de Deus. Posso citar um dos personagens: Doña Carmencita Pilar Vicenta Alvarado Agostina Menendez Palacios y Silva, espanhola, mulher lindíssima, solar e louca, que vive cercada por dezenas  de gatos angorá e um séquito de mucamas. Convence o marido, de quem tomou o prenome Silva, a promover touradas na fazenda onde moram. Numa dessas atira ao centro da arena, vestido de toureiro, um pobre aleijado, um jovem a quem destina grande desprezo. Ele, a despeito de suas limitações, consegue enfrentar e matar o touro.

Revoltada com o resultado da tauromaquia, que não foi do seu agrado, manda que o jovem aleijado seja abatido a tiros, o que é feito. O pai do rapaz vai em busca de Padre Heusz para que assista à sua vingança e diz: “O salário do pecado é a morte.” Isso é suficiente para convencê-lo: Doña Carmencita merece o ázimo justiceiro. Ela é levada à arena para que seja atacada por um touro, seja ferida e afinal receba do Padre Heusz extrema-unção com a hóstia vingadora. Mas suas mucamas, lindas e nuas, invadem a liça, trazem seus gatos angorá e, mais que isso, apresentam um jaguar para defender a diva. O final é lancinante; só lendo o livro. E vêm muitos outros personagens, todos pecadores e infames.

Para dar maior verossimilhança incluí à narrativa experiências minhas, como a cobertura da chacina de Capim Macio, agregando essa vivência ao personagem jornalista. Também cito o crime de Mansinho, nas Rocas, onde o bandido matou a amante com mais de 70 facadas. Estas e outras memórias entram numa espécie de perfil jornalístico do personagem. A ideia é dar ao leitor a sensação de como funciona uma Redação, suas peripécias, seus desafios.

Afinal, o repórter, em sua investigação, termina por se envolver com o Padre Heusz e chega a pensar que  é seu filho,  até o final aterrador onde um tenta destruir o outro. O objetivo é uma imersão na condição humana, seus desacertos, deslizes, fracassos. Não é um livro de crimes vulgares e insensatos embora nele pulse, pressão alta, a veia do jornalismo policial. Eis aí o paradoxo: o desespero do existir, o matar por quem acredita estar salvando.

Dia 10 de julho farei o lançamento no Solar Bela vista, a partir das 19h."

Emanoel Barreto

Serviço: 
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