Universidade do Conhecimento anula e perverte a Cultura

Posted by Maria das Graças Pinto Coelho 30 de jun. de 2009

Amigos, um texto longo, mas instigante! È interessante pensar sobre o final do texo, quando a filósofa fala sobre a educação a distância.
DEBATE ABERTO

O mal-estar na Universidade

O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade
da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel
filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao
atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito
como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento
geral.

Olgária Mattos

A militarização do campus universitário da USP e a solução de conflitos
através da força atestam o “esquecimento da política”, substituída pela
ideologia da competência, entendida segundo o modelo da gestão
empresarial, com seu culto da eficiência e otimização de resultados.
Também a proposta mais recente da reforma da carreira docente e do projeto
da implantação da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo),
respondem, cada qual à sua maneira, à “produtividade”, os acréscimos
salariais dos professores subordinando-se ao número de publicações e a seu
estatuto— se livro, capítulo de livro, ensaio em revistas, se estas se
ajustam ao “selo de qualidade” das agências de financiamento; número de
congressos; soma de palestras; orientações de teses e dissertações e,
sobretudo, se estas obedecem ao prazo preconizado, tanto mais exíguos
quanto mais os estudantes chegam à Universidade desprovidos de
pré-requisitos à pesquisa,como um conhecimento adequado do português para
fins de leitura e escrita universitária, (guardadas as exceções de praxe),
bem como acesso a línguas estrangeiras. De fato, a Universidade se adapta
às circunstâncias do ensino médio, e o mestrado pretende contornar as
deficiências da formação no ensino médio (e fundamental também), que
incidem nos anos de graduação, convertida em extensão do segundo grau.

Professores e estudantes cedem precocemente a publicações, sem que haja
nelas nada de relevante, e, ao mesmo tempo, devem freqüentar cursos ou
prepará-los, realizar trabalhos correspondentes, desenvolver suas teses -
uma vez que a quantidade consagra pontuações para futuras bolsas de
iniciação científica ou aprovação de auxílios acadêmicos. Quanto aos
docentes, estes se ocupam cada vez mais com tarefas de secretaria, como
preenchimento de planilhas, elaboração de relatórios, propostas de
inovação em cursos não obstante ainda em vias de implantação,
acompanhamento de iniciação científica, organização desses congressos,
participação em atividades de iniciativa discente, preenchimento de
pareceres on line de um número crescente de bolsistas, e por aí vai. No
que diz respeito ao ensino à distância, ele não responde à democratização
da Universidade mas a sua massificação.

O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade
da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel
filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao
atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito
como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento
geral. Este encontra-se na base da transformação do intelectual em
especialista e da docência como vocação em docência como profissão. O
saber técnico é o do expert que transmite conhecimentos sem experiência,
cujo sentido intelectual e histórico lhe escapa. Assim como no processo
produtivo a proletarização é perda dos objetos produzidos pelos produtores
e perda do sentido da produção, a especialização pelo know how é
proletarização do saber. Por isso o especialista moderno se comunica por
fórmulas, gráficos, estatísticas e modelos matemáticos. Foucault reconhece
seu primeiro representante em Oppenheimer que enunciou o projeto
Mannhathan - que levou à bomba-atômica - em termos simpaticamente
técnicos.

A “Universidade do Conhecimento” perverte pesquisa em produção. Quanto à
educação à distância, ela não significa um apoio ao conhecimento e seu
acesso a regiões distantes, mas sim o fim de toda uma civilização baseada
nos valores da convivência, da sociabilidade e da felicidade do
conhecimento.
Olgária Mattos é filósofa, professora titular da Universidade de São Paulo.
-------------------------------------------------------------------

COMENTÁRIOS

1. Por ELVIRA PEREIRA

Em 01/07/2009 - 13:32

É uma reflexão interessante, levando em conta o aumento dos cursos à distância e a sede do mercado por profissionais capacitados a que preço for, diga-se de passagem não são nada doces.
O que podemos fazer? Essa é uma tendência do futuro ou o momento político social assim o exige? Quanto ainda falta para extrair da alma dos seres, na tentativa de aniquilá-lo como senhor das decisões e, por isso mesmo, necessitando de idéias?
Enquanto os interesses partirem do capital há de se travar uma guerra de forças desiguais para mudarmos qualquer coisa, mas, o importante é não desistir de existir enquanto sujeito reinventando todos os dias, esse homem, que teimar em manter vivo o pensamento diferenciando-o dos animais domesticados e que agem por instinto. Elvira



1 Responses to Universidade do Conhecimento anula e perverte a Cultura

  1. É uma reflexão interessante, levando em conta o aumento dos cursos à distância e a sede do mercado por profissionais capacitados a que preço for, diga-se de passagem não são nada doces.
    O que podemos fazer? Essa é uma tendência do futuro ou o momento político social assim o exige? Quanto ainda falta para extrair da alma dos seres, na tentativa de aniquilá-lo como senhor das decisões e, por isso mesmo, necessitando de idéias?
    Enquanto os interesses partirem do capital há de se travar uma guerra de forças desiguais para mudarmos qualquer coisa, mas, o importante é não desistir de existir enquanto sujeito reinventando todos os dias, esse homem, que teimar em manter vivo o pensamento diferenciando-o dos animais domesticados e que agem por instinto.

     

Postar um comentário

    Arquivo

    Cultmidiáticos