Um novo papel para o Jornalismo

Posted by admin 26 de set. de 2011

Fonte: PORTAL SESCSP/Silvia Kochen (informação enviada pela profa. Graça Pinto/UFRN)
Blogs e redes sociais revolucionam divulgação de informações na era digital
Um novo papel para o jornalismo
Em 3 de abril, 3 mil pessoas foram às ruas de Toronto vestidas de forma sensual para protestar contra a cultura que transforma as mulheres em culpadas pela violência que sofrem. “Já basta, não se trata apenas de uma ideia ou de um policial culpando as vítimas, mas de mudar o sistema e fazer algo construtivo com a raiva e a frustração”, disse Heather Jarvis, de 25 anos, uma das organizadoras da marcha em Toronto.O policial canadense Michael Sanguinetti, numa palestra sobre segurança em um campus universitário de Toronto, em 24 de janeiro, fez uma recomendação que repercutiu em todo o mundo. Ele disse que as mulheres, para evitar estupro, não deviam usar roupas que pudessem sugerir que fossem vadias. A infeliz declaração foi o estopim para um movimento conhecido como a Marcha das Vadias (ou Slutwalk, no original em inglês), que se alastrou por todo o mundo nos últimos meses.
Desde então, a indignação se espalhou pelo mundo e houve vários protestos semelhantes nos Estados Unidos, na Austrália, Nova Zelândia, Holanda, Argentina e também no Brasil, onde a primeira Marcha das Vadias ocorreu em São Paulo. A manifestação também ganhou a adesão de muitos homens e teve como mote “para evitar estupro é preciso ensinar os homens a não fazer isso, e não dizer como as mulheres devem se vestir”.
O movimento ganhou força graças à internet, que está permitindo um novo olhar sobre o mundo em que vivemos. Acontecimentos que antes eram ignorados pela maioria das pessoas chegam ao conhecimento de todos. O resultado é que, com apenas uma ideia na cabeça e um palmtop na mão (ou um notebook, ou ainda um simples celular com câmera), as informações ganham novas cores e possibilidades e promovem a cidadania em uma dimensão nunca vista antes. Assim nasce um novo estilo de jornalismo, de caráter colaborativo.
O esquema tradicional de trabalho jornalístico exige uma estrutura imensa e extremamente onerosa. É preciso ter repórteres a postos em praticamente cada ponto em que algo de interessante possa ocorrer. Como isso é impossível, acontece muita coisa sem que a imprensa se dê conta. Mesmo assim, em um grande jornal ou agência de notícias produz-se um volume imenso de informação a cada dia. Essas notícias passam pelo crivo dos editores, que escolhem o que entra no jornal impresso, no noticiário de rádio ou no telejornal. Os critérios podem ser inúmeros, mas normalmente eles convergem para dois pontos: o que pode atrair anunciantes e o que deve agradar a leitores ou espectadores. Não surpreende que muitas notícias interessantes fiquem de fora das pautas dos jornais e que esses fatos acabem por conquistar espaço na internet.
Redes sociais
A grande diferença entre as mídias convencionais e as novas está no sentido da informação, afirma Graça Pinto Coelho, professora e pesquisadora dessa área na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “As mídias corporativas fazem a mediação das práticas sociais – educação, cultura, política etc. – de forma vertical”, diz. Ela explica que o jornal, o rádio ou a TV escolhem as vozes e os cidadãos que vão participar do processo social de interação na sociedade. “Ou seja: as mídias tradicionais têm uma agenda e engajam as vozes da sociedade de acordo com suas conveniências.”
Com a internet, surgiram novas mídias, como os blogs, o Twitter e o Facebook, entre outros. Chamadas de redes sociais, são espaços em que as pessoas comentam assuntos livremente com todos, como é o caso dos blogs; com seus amigos, através do Facebook; com pessoas que seguem o que as outras dizem porque há alguma afinidade de interesses, que é o que acontece no Twitter. “O formato das mediações e das interações nas redes sociais é diferente; nelas, cada um de nós pode emitir opiniões, validar significados e interagir para tratar as informações de modo que elas sejam socialmente construídas”, acrescenta Graça Pinto.
No Brasil, muitos movimentos surgiram nas redes sociais. Um exemplo é o “churrasquinho da gente diferenciada”, que fez sucesso no Facebook. O evento foi uma reação ao elitismo de habitantes do bairro de Higienópolis, um dos mais abastados de São Paulo, que apoiaram a decisão do governo paulista de alterar o projeto que previa a construção de uma estação de metrô no bairro, transferindo-a para outro local. Segundo declarou uma moradora a um jornal, a estação faria com que circulassem no bairro “drogados, mendigos, uma gente diferenciada...”
Assim que a notícia foi publicada, milhares de internautas começaram a publicar piadas sobre o assunto no Twitter e decidiu-se fazer um churrasquinho (coisa tida como de gente pobre) em frente ao luxuoso shopping do bairro. Mais de 50 mil pessoas confirmaram presença no Facebook, mas a notícia de que a polícia não permitiria o evento fez com que ele fosse cancelado e depois, devido à pressão dos que queriam se manifestar, reconfirmado.
O evento reuniu diante do shopping algumas centenas de pessoas, que, após um churrasquinho com cerveja e refrigerante, colocaram-se em marcha até o local previsto para a construção da estação do metrô, na esquina da Avenida Angélica com a Rua Sergipe, onde havia mais manifestantes. Um carnaval de rua invadiu o bairro, e o governo paulista voltou atrás, mantendo o projeto da estação na região.
A professora Graça Pinto compara o modo de interação nessas redes a um rizoma – raiz que está constantemente criando novos ramos que se entrelaçam. “Nas mídias digitais cada um pode produzir a própria informação. Com isso, o indivíduo que tem acesso à internet expõe sua visão de mundo, e essas informações entram na agenda social”, analisa a pesquisadora.
Ressaltando a crise do modelo democrático representativo no mundo todo, Graça afirma que as redes estão efetivamente sinalizando uma mudança nos sistemas políticos, “porque são plurais e participativas”. Como exemplos, cita os movimentos revolucionários que assaltaram a ditadura egípcia e os protestos de Madri. Ao mesmo tempo, essas mídias também constroem destinos políticos e sociais. A eleição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi apontada como uma demonstração do poder das redes do mundo virtual.
Muitos acreditam que as novas mídias estão fortalecendo o jornalismo com a democratização da informação. “A grande revolução da web é colocar todos os agentes na mesma plataforma tecnológica, de modo que um internauta anônimo pode ter um artigo quase tão eficaz quanto um da grande mídia”, diz o jornalista e blogueiro Luis Nassif. Segundo ele, a contribuição mais importante é a ampliação da pauta de temas, que nos jornais tradicionais ficou reduzida a meia dúzia de assuntos, normalmente o escândalo da hora.
“Hoje há uma verdadeira revolução na área de políticas sociais que está mudando a cara do país, mas os jornais insistem em bater sempre na mesma tecla”, alerta Nassif. Por isso, a internet virou ferramenta para que muitas pessoas divulguem experiências de gestão, de modelos educacionais, de regionalização etc., através de blogs. O jornalista acredita que o acesso a novas fontes de informação com a internet rompeu as amarras que limitavam a compreensão do Brasil e colocou em xeque a credibilidade dos grandes jornais. “O modelo agressivo de jornalismo da ‘Veja’ tem vida curta, pois não há como se ter denúncia todo dia”, acrescenta ele.

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